25 Anos Depois: O que a Mecânica Mais Odiada de Diablo II Nos Ensina Sobre o Design de Jogos Hoje

O criador de Diablo II confessou odiar a stamina. Entenda por que essa mecânica frustrante é uma lição valiosa sobre o game design até hoje.

quinta-feira, 10 de julho de 2025

Você se lembra daquela sensação? Explorando os campos sombrios de Sanctuary, sua empolgação no auge, quando de repente... seu personagem para, ofegante, indefeso. 

A pequena barra amarela no canto da tela, a infame barra de stamina de Diablo II, havia se esgotado mais uma vez, deixando você vulnerável a uma horda de demônios. Por décadas, jogadores debateram: era um desafio estratégico ou apenas uma irritação?

Se você sempre pendeu para a segunda opção, saiba que não está sozinho. Na verdade, o próprio criador do jogo concorda com você.

Recentemente, David Brevik, o diretor e mente por trás de Diablo II, confessou que também odeia essa mecânica. Essa admissão não é apenas uma curiosidade de 25 anos; é a chave para entendermos uma lição fundamental sobre a diferença entre um desafio que engaja e uma barreira que apenas frustra. 

Prepare-se para descobrir por que a mecânica mais odiada de Diablo II é, na verdade, uma das professoras mais importantes do design de jogos moderno.

Um close do rosto de Diablo 2 na arte da caixa de Diablo 2.

A Confissão que Levou 25 Anos: "Eu Odeio a Stamina"

Lançado originalmente em 2000 pela Blizzard North e dirigido por David Brevik, Diablo II estabeleceu um padrão para os ARPGs. E é justamente Brevik que, em uma entrevista recente, não mediu palavras para expressar seu arrependimento.

Conforme noticiado pelo PC Gamer e repercutido pelo GamesRadar+, Brevik confessou: 

“It makes me cringe every time… It’s like a newbie tax almost”
 (em tradução livre: "Eu me encolho toda vez... É quase como um imposto para novatos").

A ideia, segundo ele, era impedir que os jogadores simplesmente fugissem de todos os combates. No entanto, a execução falhou, criando um obstáculo que quebrava o ritmo do jogo, principalmente para quem estava começando sua jornada.


O Fantasma do Game Design: Por que a Stamina Existiu?

Para entender a barra de stamina, precisamos voltar no tempo. No final dos anos 90, o conceito de "dificuldade" em muitos jogos era sinônimo de limitação de recursos. A stamina em Diablo II é um artefato dessa era, um verdadeiro "fóssil de design".

Personagem em Diablo II com a barra de stamina vazia, exemplificando a frustração do jogador

Erro Comum: A Armadilha da "Vitalidade"

Muitos jogadores novatos em Diablo II caíam na mesma armadilha: ao verem a barra de stamina esgotar, instintivamente colocavam pontos de atributo em Vitality (Vitalidade), pensando que isso resolveria o problema. A verdadeira solução inicial não estava nos atributos, mas em um item simples e barato que a maioria ignorava: as Poções de Stamina.

A prova de que a própria Blizzard aprendeu com isso é a completa ausência dessa barra em Diablo III e Diablo IV. Essa evolução na filosofia de design da empresa mostra uma clara mudança de prioridade: da limitação punitiva para a fluidez da ação.

A Diferença Crucial: Dificuldade vs. Frustração

A confissão de Brevik nos força a fazer uma pergunta essencial: o que separa um desafio justo de uma barreira frustrante? Diablo II é um jogo difícil. Gerenciar mana, poções e posicionamento são desafios que engajam. A stamina, por outro lado, era um pedágio.

Cuidado! Stamina Punitiva vs. Stamina Estratégica

É crucial não confundir a stamina de Diablo II com os sistemas de jogos como Dark Souls. Em Diablo II, a stamina penalizava uma ação básica: correr. Em jogos Souls-like, ela governa ações estratégicas de combate (atacar, bloquear, esquivar), sendo o núcleo da gestão de risco e da profundidade tática.

Essa discussão reverbera até hoje em comunidades online, como em tópicos no Reddit, onde jogadores debatem o ritmo dos jogos. Um comentário resume bem a perspectiva que valoriza o design antigo:

“Modern gamers do not want infinite grind… I prefer the slow, methodical pacing”
(em tradução livre: "Jogadores modernos não querem um grind infinito... Eu prefiro o ritmo lento e metódico").

Isso mostra que, para uma parte da comunidade, a "frustração" inicial era, na verdade, um filtro que exigia paciência e estratégia, um valor que alguns sentem falta nos ARPGs atuais.


A Libertação de um "Fóssil de Design" e a Lição Para o Futuro

O mais brilhante na fala de Brevik é que ela não soa como uma desculpa, mas como uma libertação. Ela eleva a discussão sobre intenção versus execução. Nas palavras dele, "um sistema melhor poderia ter sido criado".

O reconhecimento, vindo do diretor, é uma lição poderosa para a indústria: as melhores intenções podem falhar. A barra de stamina não é uma mancha na reputação de Diablo II; é um marco histórico que nos conta a história de como a indústria aprendeu a criar desafios que respeitam o tempo e a inteligência do jogador.


Em resumo, a confissão de David Brevik sobre a barra de stamina de Diablo II é muito mais do que uma curiosidade. É uma validação para milhões de jogadores e uma aula magna sobre a evolução do game design. Ela nos ensina que a linha entre dificuldade e frustração é tênue e, por vezes, uma questão de perspectiva.

O odiado "imposto para novatos" se tornou um "fóssil de design" que nos mostra o quanto a indústria amadureceu e como as discussões sobre o que torna um jogo bom continuam mais vivas do que nunca.

Agora é a sua vez!

Onde você se posiciona nesse debate? A stamina de Diablo II era um erro crasso ou um filtro estratégico que os jogos modernos perderam? Deixe seu comentário abaixo e vamos conversar!

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