Sequências de jogos de Hideo Kojima carregam o peso de uma expectativa quase transcendental. E com Death Stranding 2, a promessa era a de expandir um dos universos mais singulares da última década. A Kojima Productions cumpriu a promessa, mas de uma forma paradoxal que divide opiniões.
Sam Porter Bridges está de volta, com a missão de expandir a Rede Quiral por novos e perigosos continentes. A grande questão que paira sobre esta continuação, no entanto, é um dilema fundamental: enquanto sua ambição narrativa dá um salto gigantesco para territórios desconhecidos, a jogabilidade central se contenta em caminhar por uma trilha segura e já conhecida.
Nesta análise, vamos dissecar a brilhante contradição de Death Stranding 2: uma obra que abriga uma das melhores histórias de Kojima, mas que talvez tenha esquecido de revolucionar a si mesma.
A Filosofia da "Vara": Uma Narrativa Mais Sombria e Ousada
O primeiro Death Stranding foi definido pela "corda" (rope), a ideia de usar nossas ferramentas para conectar uma sociedade fragmentada. Em Death Stranding 2, Kojima inverte a equação e nos entrega a "vara" (stick). Essa mudança filosófica é o coração da sequência. O jogo é deliberadamente mais agressivo, com uma nova facção antagônica, a Drawbridge, e um foco renovado em combate que incentiva o confronto direto.
Essa filosofia não é apenas temática. Ela se manifesta na introdução de uma facção, a Drawbridge, cujo objetivo é ativamente impedir a expansão da Rede Quiral. Seus ataques e a forma como eles representam a "desconexão" forçam o jogador a adotar uma postura mais defensiva e, por vezes, agressiva, usando a "vara" não apenas para atacar, mas para se proteger da desunião.
Lampejos de Genialidade na Travessia
Mesmo que a estrutura central seja familiar, existem evoluções brilhantes na fórmula. A mais notável é a introdução de perigos ambientais dinâmicos. Rios que inundam subitamente, forçando um desvio desesperado, e avalanches que redesenham completamente uma rota segura, adicionam uma camada de imprevisibilidade que o primeiro jogo não tinha.
Novas ferramentas, que oferecem diferentes formas de interagir com os BTs durante o combate, mostram uma fagulha de inovação divertida e estratégica, expandindo as ideias do original de forma criativa. São nesses momentos que a sequência realmente brilha, provando que Kojima e sua equipe ainda são mestres em surpreender.
A Armadilha da Comparação com o Inédito
A sensação de descoberta do primeiro Death Stranding era única: estávamos aprendendo sobre BTs, Timefall e a Rede Quiral junto com Sam. Em Death Stranding 2, você já é um veterano. O erro comum é esperar o mesmo nível de maravilhamento e mistério do início.
A sequência aprofunda o lore conhecido, mas não reinventa suas regras fundamentais. Entre nesta jornada esperando por um novo e excelente capítulo de um livro que você já conhece, não por um livro inteiramente novo.
O Peso de uma Sequência Tímida
Apesar dos acertos pontuais, a sensação predominante que fica ao final da jornada é a de que a jogabilidade joga seguro demais. A experiência se assemelha mais a uma gigantesca e excelente expansão do que a uma sequência propriamente dita.
A falta de novas construções realmente impactantes para o esforço comunitário e a reutilização de ideias em momentos climáticos da campanha são sintomas claros dessa timidez.
A maior prova dessa timidez talvez seja a ausência de um novo pilar de construção online que incentive a colaboração em larga escala, como as estradas fizeram no primeiro jogo. A expectativa por sistemas inéditos que permitissem aos jogadores criar, por exemplo, postos avançados comunitários ou novas redes de transporte complexas era imensa.
A falta de uma inovação dessa magnitude no multiplayer assíncrono faz com que a reconstrução dos novos continentes, por mais bela que seja, pareça mecanicamente uma repetição do que já fizemos antes.
Abrace o Paradoxo para Aproveitar a Jornada
A melhor forma de aproveitar Death Stranding 2 é aceitar sua natureza dividida. Trate a jogabilidade como um ritual meditativo, quase um "trabalho" relaxante, onde você otimiza rotas e aprecia a paisagem sonora e visual.
Em paralelo, trate a narrativa como um filme de ficção científica denso e provocador que você assiste nos intervalos. Tentar forçar uma sinergia perfeita entre as duas metades pode gerar frustração. Ao abraçar o paradoxo, você permite que cada parte do jogo brilhe em seus próprios termos.
Death Stranding 2 é um paradoxo fascinante. É um jogo que abriga uma das narrativas mais bem escritas, relevantes e corajosas de Hideo Kojima, mas que a envolve em um pacote de jogabilidade que, embora polido e com momentos de brilhantismo, optou pela segurança em vez da revolução.
O veredito final dependerá inteiramente do que você busca. A recepção da crítica especializada reflete bem esse paradoxo, com muitos elogiando a história e outros apontando a falta de inovação na jogabilidade. Se for por uma história que vai te fazer pensar por semanas, a jornada vale cada passo. Se a sua busca era por uma reinvenção completa da jogabilidade, talvez você sinta que algumas entregas ficaram pelo caminho.
Veredito: Vale a Pena?
- Nota da Pequena Jornada: 8.5/10
- Recomendamos para: Fãs incondicionais de Hideo Kojima, jogadores que amaram a atmosfera e o universo do primeiro jogo e buscam uma das melhores e mais complexas narrativas da ficção científica moderna nos games.
- Pense duas vezes se: O loop de gameplay de entregas do primeiro Death Stranding te cansou ou te frustrou. A sequência refina, mas não revoluciona, essa base mecânica.
E para você, o que pesa mais na balança: a obra-prima narrativa ou a jogabilidade tímida? Concorda com nosso veredito de 8.5?
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